
Condenado desde o nascimento a esta condição, o equilibrista ao qual esta alegoria se refere, tem consciência da sua situação. Sabe que caminha numa corda fina misteriosamente suspensa num imenso espaço vazio ao qual é obrigado a caminhar. Por estar o ambiente tomado pela escuridão, é incapaz de ver o caminho a sua frente (somente sabe que, por motivos óbvios, a corda terminará) ou o percurso já andado (do qual apenas pode imprecisamente recordar). Não sendo capaz de virar para trás e retornar, o Indivíduo é obrigado a prosseguir rumo ao incerto – afinal, ignora o que acontecerá quando chegar ao fim do fio ou o estado da corda nos centímetros adiante. O equilibrista está ciente disso tudo, aliás, talvez o esteja desde que se entende por gente.
Porém, a consciência plena da sua situação, por mais explicita que sempre fora, só foi capaz de obter pelo medo. Ínfimo no espaço onde está pendurada a corda em que caminha, o Indivíduo, devido às – possivelmente inextinguíveis – trevas que lhe impedem a visão do todo, não sabe o que há abaixo de si. Logo, caso escorregue, afundará num vazio que desconhece. A única certeza que agora, não mais alienado da sua realidade, possui é que irá cair - seja por acidente, seja pelo cansaço inerente ao desgastante esforço físico de manter seu corpo equilibrado na corda, ou mesmo seja pelo fato de chegar ao fim do fio, afinal, o fio tem que ter uma ponta. Agora, com esta nova e angustiante expectativa de que inevitavelmente enfrentará o incerto, um dilema é colocado ao Indivíduo: tomar o máximo de cautela na caminhada, controlando ao máximo seus movimentos e impulsos para que não caia; ou não se preocupar com a queda e aproveitar ao máximo o (curto? Longo?) tempo que consegue (ou lhe é permitido?) permanecer na corda.
Antes de perceber a complexidade da sua condição, o equilibrista distraidamente caminhava, numa clara despreocupação com o fato de que poderia cair. Assim, não foram poucas as vezes em que quase escorregou da corda, escapando por pouco da queda. Contudo, depois que experimentou o desespero de se perceber quase caindo num certo momento, adquiriu a consciência de quanto é delicada a sua condição de equilibrista.
Antes de perceber a complexidade da sua condição, o equilibrista distraidamente caminhava, numa clara despreocupação com o fato de que poderia cair. Assim, não foram poucas as vezes em que quase escorregou da corda, escapando por pouco da queda. Contudo, depois que experimentou o desespero de se perceber quase caindo num certo momento, adquiriu a consciência de quanto é delicada a sua condição de equilibrista.
Após este tropeço que por pouco não resultou na queda, a inquietação diante do reconhecimento da própria fragilidade persegue o Indivíduo, tormento que o impede de andar sobre a corda com a mesma irresponsabilidade e inconseqüência de outrora. A partir do momento em que ganha plena noção da realidade a qual está condenado, o Indivíduo se transforma, deixa-se governar, mesmo que inconscientemente, pelo medo e se impõe a negação de certos prazeres e caprichos da vontade.
A tragédia suprema se realizou para o Indivíduo: a conquista da consciência plena da condição humana através do medo da morte experimentado numa eventualidade que quase lhe foi fatal. A relação do equilibrista com a corda e com o fardo de ter que nela caminhar, conforme demonstrado, mudou a partir deste momento decisivo.
A tragédia suprema se realizou para o Indivíduo: a conquista da consciência plena da condição humana através do medo da morte experimentado numa eventualidade que quase lhe foi fatal. A relação do equilibrista com a corda e com o fardo de ter que nela caminhar, conforme demonstrado, mudou a partir deste momento decisivo.
Por Bruno Uchôa
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